Livestock Research for Rural Development 18 (2) 2006 | Guidelines to authors | LRRD News | Citation of this paper |
O trabalho foi conduzido no município de Santa Maria, RS, Brasil, de setembro de 2001 a abril de 2002, com o objetivo de avaliar uma pastagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), cultivar Merckeron Pinda, associada com espécies de crescimento espontâneo, manejada sob princípios agroecológicos. O capim-elefante foi estabelecido em linhas com três metros de afastamento representando 17% da área total (0,33 ha). O restante da área foi ocupado pelas espécies de crescimento espontâneo com destaque para a guanxuma (Sida santaremnensis H. Mont), milhã (Digitaria adscendens (H.B.K) Henrard), papuã (Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc) e pé-de-galinha (Chloris gayana). A pastagem foi adubada durante o verão com 100 kg/ha de N, sob forma de fertilizantes orgânicos. Para avaliação foram utilizadas bezerras da raça Holandesa. O tempo de ocupação em cada piquete foi de um dia e o período de descanso variou de 33 a 45 dias. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com duas repetições (piquetes) e seis tratamentos (pastejos no decorrer do tempo).
O valor médio da matéria seca (MS) disponível foi constituído por 33% de capim-elefante e 67% pelas espécies de crescimento espontâneo. Não houve diferença significativa (P>0,05) na disponibilidade de MS e na digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) entre os pastejos, sendo em média de 8257 kg/ha e 56,67%, respectivamente. O teor de proteína bruta (PB) da pastagem apresentou efeito linear ascendente (P=0,039), e o teor de fibra em detergente neutro (FDN, P=0,003) e a carga animal (P=0,0003) apresentaram efeito descendente no decorrer da utilização. Os valores médios para estes parâmetros foram de 11,52%; 64,15% e 2344 kg/ha, respectivamente. Na avaliação dos componentes botânicos do capim-elefante, foi encontrada diferença significativa (P<0,05) para as variáveis lâmina foliar, que decresceu, e colmo, que aumentou no decorrer dos pastejos.
Palavras-chave: bovinos leiteiros, carga animal, composição química, pastagens consorciadas, Pennisetum purpureum
Key words: chemical composition, dairy cattle, mixed pasture, Pennisetum purpureum, stocking rate
O capim-elefante vem sendo utilizado em diferentes regiões do Brasil, notadamente por apresentar elevada produção de forragem. Seu uso, sob condições de pastejo, tem se intensificado devido à melhoria na qualidade do volumoso ofertado e redução da mão-de-obra envolvida quando comparada com sua utilização como capineira (Faria 1999).
Considerando-se o sistema de produção, a maioria dos estabelecimentos submete o capim-elefante à estratégia convencional, baseada na produtividade, na qual a pastagem é estabelecida de forma singular e a reposição de nutrientes do solo é feita com fertilizantes químicos, especialmente. No plantio e no decorrer das utilizações, por vezes, os agricultores fazem uso de pesticidas (Dall'Agnol et al 2004).
Na atividade leiteira, notadamente, o capim-elefante tem representado uma alternativa importante no forrageamento dos animais (Lucci et al 1972; Soares et al 2001; Silva et al 2002). Em diferentes regiões do País, tem-se obtido lotações elevadas, entre 4 e 6 vacas em lactação/ha no decorrer do período estival (Corsi 1986; Deresz 2001). Apesar deste desempenho, várias pesquisas têm apontado problemas como a elevação dos custos de produção, especialmente dos fertilizantes nitrogenados, e degradação dos pastos pela ação de insetos-praga (Dall'Agnol et al 2004; Deresz 2003; Lima 2002).
As pesquisas, em sua maioria, também têm como base a estratégia convencional, tendo utilizado metodologias, como o pastejo rotacionado, indicadas nos sistemas orgânicos ou agroecológicos. Outras, como o uso racional dos dejetos dos animais (Gonçalves and Costa 1987) e a consorciação do capim-elefante com leguminosas e outras gramíneas (Lourenço et al 1987), são escassas. Estas são consideradas importantes podendo proporcionar menor custo de produção e maior sustentabilidade ao sistema forrageiro.
Nesse contexto, a agroecologia, orientada na otimização da produção, tem apontado formas de manejo, insumos e tecnologias mais adequadas à preservação da base dos recursos naturais, proporcionando maior estabilidade ao sistema produtivo (Olivo 2000), além de contribuir para melhoria da qualidade de vida dos agricultores e seus familiares (Altieri 2000; Gliessman 2000). Ressalta-se que nesta estratégia de produção não são usados pesticidas (Ehlers 1999).
Assim, esta pesquisa teve como objetivo analisar uma pastagem de capim-elefante, submetida ao manejo agroecológico, avaliando-se a dinâmica desta cultura, em associação às espécies de crescimento espontâneo, o valor nutritivo e o desempenho de bezerras da raça Holandesa, durante o período estival em seu primeiro ano de estabelecimento.
O experimento foi conduzido em área pertencente ao Departamento de Zootecnia da UFSM, Santa Maria-RS, situada a 29º 43' de latitude Sul e 53º 42' de longitude Oeste, numa altitude de 95 m. O clima da região é Cfa (subtropical úmido), conforme classificação de Köppen, com precipitação média anual de 1769 mm, temperatura média anual de 19,2ºC, sendo a média das mínimas de 9,3ºC em julho e média das máximas de 24,7ºC em janeiro, umidade relativa do ar de 82% e insolação de 2212 horas anuais (Moreno 1961). A área da pastagem apresenta leve declive e o solo é classificado como Argissolo Vermelho Distrófico Arênico (Embrapa 1999).
Para o experimento utilizou-se uma área de 0,33 ha submetida nos últimos dois anos ao manejo convencional, na qual eram estabelecidas espécies anuais de verão - milheto (Pennisetum americanum) e de inverno - aveia (Avena strigosa) e azevém (Lolium multiflorum). Na condução do trabalho foram utilizados procedimentos inseridos na estratégia agroecológica, sendo os seguintes: uso de adubação orgânica; estabelecimento de pastagens com cultivo mínimo do solo e sem uso de pesticidas; diversificação de culturas; uso de pastagens perenes e cuidados com o bem-estar dos animais.
No mês de setembro de 2001, fez-se a roçada da área e distribuição de calcário dolomítico conforme as Recomendações de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (1989). Na seqüência distribuiu-se 20 m3/ha de chorume de suínos contendo 70 kg de N, 72 kg de P2O5 e 40 kg de K2O e fez-se a escarificação do solo com uso de grade niveladora. A cultivar Merckeron Pinda, de capim-elefante, foi selecionada devido à produção e qualidade de forragem, resistência às geadas, preferência (Olivo 1994) e desempenho de bovinos leiteiros (Townsend 1993). No mês de outubro implantou-se o capim-elefante, por meio de estacas com 3 a 5 nós cada uma, enterradas de forma oblíqua a cada 40 cm em camaleões feitos de forma perpendicular ao declive do terreno, com espaçamento de 3 m entre as linhas. Optou-se por esta forma de plantio devido a maior eficiência no estabelecimento do capim-elefante (Towsend 1993). O espaçamento entre as linhas de capim-elefante visou proporcionar diversidade de espécies e possibilitar o uso de maquinário.
Permitiu-se o estabelecimento de espécies de crescimento espontâneo nas entrelinhas, visando manter a diversificação de espécies. Como animais experimentais foram utilizadas 12 terneiras da raça Holandesa com peso vivo médio inicial de 160 kg. Cada animal recebeu, como complementação alimentar 0,800 kg/dia de concentrado com 16% de PB, correspondendo a 0,5% do peso vivo, à semelhança das recomendações de sistemas de produção de leite orgânico (Weber et al,1993; Toledo et al 2002).
A área foi dividida em dois piquetes e a pastagem utilizada de 16 de janeiro a 17 de abril de 2002. O manejo da pastagem teve como base de decisão a eficiência de utilização e o desempenho do capim-elefante. Os animais foram introduzidos na pastagem quando o capim-elefante apresentava cerca de um metro de altura, procurando-se manter a oferta de forragem de 10 kg de MS/100kg de peso vivo. Para retirada dos animais, manteve-se um resíduo de lâmina foliar entre 25 (Hillesheim 1995) e 30 % (Townsend 1993).
Durante o período de utilização, foram efetuados três ciclos de pastejo. No decorrer do segundo ciclo fez-se adubação com 10 t./ha de esterco de bovinos contendo 30 kg de N, 20,6 kg de P2O5 e 14,6 kg de K2O, distribuídos na base das touceiras do capim-elefante. No total foram distribuídos 100 kg/ha de N. Em cada ciclo de utilização, foram feitas estimativas da disponibilidade da pastagem em cada piquete, conforme metodologia adotada por Aroeira et al (1999). Antecedendo a entrada dos animais, nas linhas, foram cortadas duas amostras de 1,0 m x 0,5 m cada, a 20 cm do solo, e nas entrelinhas, foram cortadas duas amostras de 0,5 m x 0,5 m cada, rente ao solo, devido a diferença de arquitetura das plantas nas linhas e nas entrelinhas. As amostras foram pesadas e homogeneizadas, retirando-se duas subamostras, sendo uma levada à estufa para determinação do teor de MS e outra destinada à separação botânica (capim-elefante e espécies de crescimento espontâneo mais representativas). Para o capim-elefante fez-se a separação dos componentes da planta (colmo, lâmina foliar e material morto). Para monitorar a porcentagem de lâmina foliar remanescente, foram efetuadas amostras das touceiras seguindo-se a mesma metodologia destinada à avaliação da disponibilidade do capim-elefante.
Simultaneamente às avaliações da disponibilidade efetuadas em cada ciclo de pastejo, foram coletadas amostras sob simulação de pastejo, após observar-se o comportamento ingestivo das bezerras por 15 minutos (Euclides et al 1992), na entrada e na saída dos animais em cada piquete. As amostras compostas dos materiais coletados do pastejo simulado foram secadas em estufa e posteriormente analisadas quanto à PB pelo método de Kjeldahl (AOAC 1984), DIVMS pela técnica de Tilley e Terry (1963) e FDN pelo método de Robertson and Van Soest (1981).
Os dados referentes à carga animal foram calculados mediante a soma do peso dos animais utilizados em cada ciclo de pastejo. Fora das áreas experimentais, as bezerras foram mantidas em manejo similar, com pastagens de estação quente e mesma complementação alimentar.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com duas repetições (piquetes) e seis tratamentos (pastejos). O critério de bloqueamento foi o declive do terreno. Os dados de disponibilidade da pastagem, DIVMS, PB, FDN e carga animal foram submetidos à análise de regressão (considerando-se os ciclos de pastejo como variável independente) retirando-se o efeito dos piquetes, sendo escolhida a melhor equação ajustada, de acordo com o coeficiente de determinação e significância dos coeficientes de regressão. Adotou-se o nível de significância de 5%. Efetuou-se a análise de regressão e de correlação com auxílio do programa estatístico SAS (1996), utilizando-se o seguinte modelo estatístico:
YIJ = m + bi + b1xij + eij
em que:
YIJ: são os parâmetros estimados;
i: índice de piquetes;
j: índice de pastejos;
m: média geral;
bi : efeito dos piquetes;
b1xij: efeito da regressão do pastejo sob a
variável dependente ajustada para o modelo e,
eij: resíduo.
Na pastagem foram efetuados três ciclos de pastejo em cada piquete, sendo em média de 32 dias entre o 1º e o 2º e de 44 dias entre o 2º e o 3º pastejos. O tempo médio de ocupação foi de um dia. A análise do resíduo de pós-pastejo demonstrou uma média de 27% de lâminas foliares, indicando que o manejo adotado não limitou o consumo dos animais e proporcionou condições para manutenção do capim-elefante (Townsend 1993; Hillesheim 1995). Considerando-se o tempo de ocupação e de descanso (associado à época de pastejo) os ciclos de utilização são considerados adequados ao manejo do capim-elefante (Fonseca et al 1998; Townsend 1993; Aroeira et al 1999).
Os valores da disponibilidade da pastagem não apresentaram variações significativas (P>0,05) no decorrer dos pastejos (Tabela 1). A disponibilidade média do capim-elefante, de 2688 kg/ha de MS, pode ser considerada baixa se comparada com valores obtidos em pastagens convencionais com a cultura estabelecida de forma singular. Townsend (1993) avaliando a mesma cultivar, adubada com 500 kg/ha de NPK (na fórmula 5-20-20) no plantio e 150 kg/ha de N no decorrer da utilização, verificou disponibilidades médias de 4439, 3600, 9418 kg/ha de MS em três ciclos de pastejo efetuados entre 27 de novembro e 29 de março. Prosseguindo a pesquisa, Ruviaro (1994), valendo-se do mesmo manejo e adubação semelhante, verificou disponibilidades de 4548, 4771, 4855 kg/ha de MS em três épocas de pastejo (entre 9 de dezembro e 9 de fevereiro). Ressalta-se que na presente pesquisa o capim-elefante, em sua primeira utilização, ocupava apenas 17% da superfície sendo responsável por 33% da massa de forragem disponível (Tabela 1).
Tabela 1. Disponibilidade (kg/ha de matéria seca) do capim-elefante (CE), das espécies de crescimento espontâneo (ECE), total (CE+ECE), teor de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e carga animal (peso vivo de bezerras) em uma pastagem submetida ao manejo agroecológico. Santa Maria – RS |
||||||||||
Variáveis |
Pastejos |
Médias |
CV % |
Prob= |
||||||
16/01 |
02/02 |
26/02 |
08/03 |
16/04 |
17/04 |
|||||
Disponibilidade |
||||||||||
CE |
2401 |
2370 |
3370 |
2170 |
3648 |
2170 |
2688 |
15,88 |
0,404 |
|
ECE |
6064 |
6372 |
5892 |
4278 |
6625 |
4187 |
5596 |
17,79 |
0,454 |
|
CE + ECE |
8465 |
8742 |
9262 |
6448 |
10273 |
6357 |
8257 |
16,49 |
0,405 |
|
Valor Nutritivo¹ |
|
|||||||||
PB, % |
10,47 |
8,23 |
12,67 |
11,11 |
13,32 |
13,32 |
11,52 |
8,77 |
0,039 |
|
FDN, % |
71,07 |
68,21 |
63,47 |
65,71 |
58,23 |
58,23 |
64,15 |
2,10 |
0,003 |
|
DIVMS, % |
56,92 |
52,94 |
58,77 |
59,38 |
56,01 |
56,01 |
56,67 |
2,44 |
0,204 |
|
Carga animal, Kg/ha |
3199 |
2618 |
2530 |
2087 |
1962 |
1606 |
2344 |
1,19 |
0,019 |
|
¹ Amostras de pastejo simulado |
Trabalhando na mesma região e época do ano com capim-elefante cv. Taiwan A-146 (adubação de base de 300 kg/ha de NPK da fórmula 5-30-15 e de cobertura de 500 kg/ha de N), Restle et al (2002) verificaram disponibilidades crescentes sendo de 2874 e 4126 kg/ha de MS para os meses de janeiro e abril, respectivamente. Rosseto (2000) encontrou média de 7781 kg/ha de MS (planta inteira), de janeiro a abril, para quatro ciclos de pastejo com o cv. Guaçu, adubado com 250 kg/ha de N. Prosseguindo este estudo, Lima (2002) verificou no segundo ano de avaliação uma disponibilidade média de 5321 kg/ha de MS. No decorrer do ano, Aroeira et al (1999) observaram variações na disponibilidade do capim-elefante, sendo a menor em agosto com 0,6 e a maior em janeiro com 4,0 t./ha de MS.
Comparando-se os resultados destes estudos, observa-se que as disponibilidades encontradas na presente pesquisa foram inferiores. No entanto, considerando-se a massa de forragem disponível constituída pelo capim-elefante e pelas espécies de crescimento espontâneo, os valores são semelhantes ou mais elevados. Ressalva-se ainda que nas pesquisas citadas, conduzidas sob manejo convencional, as quantidades de adubo utilizadas são bem superiores aos 100 kg/ha de N por ano aplicados na pesquisa em análise.
Com relação às espécies de crescimento espontâneo de ciclo estival, ocupando uma superfície de 83% aproximadamente, observou-se que elas foram responsáveis por 67 % da matéria seca disponível (Tabela 1). Dentre as espécies predominantes destacou-se a guanxuma que manteve-se elevada, aproximadamente 30%, no decorrer dos pastejos. Os animais consumiram esporadicamente as pontas desta planta, especialmente no primeiro pastejo, quando apresentava-se entre 20 e 30 cm. Possivelmente, a elevada participação da guanxuma na massa de forragem deveu-se ao manejo utilizado anteriormente na área, indicando compactação do solo (Primavesi 1997). No início da utilização, o papuã (28,8%) e o pé-de-galinha (30,7%), foram as gramíneas mais representativas. Ambas decresceram linearmente no decorrer dos pastejos. Com o milhã houve comportamento inverso, havendo maior participação na produção no segundo e terceiro pastejos, com 10,8 e 9,8%, respectivamente. Embora não tenha sido objeto de estudo deste trabalho, observou-se que todas as espécies de crescimento espontâneo foram pastejadas pelos animais com predominância para o milhã e o papuã. Estas culturas produzem forragem no verão e início do outono (Lorenzi 2000), sendo consideradas plantas invasoras em lavouras de verão, apresentando elevado potencial de produção de sementes (especialmente o papuã), surgindo facilmente em cultivos subseqüentes (Restle et al 2002).
Estudos conduzidos na mesma região, confirmam que essas espécies (gramíneas de crescimento espontâneo) apresentam potencial forrageiro. Olivo (1982), avaliando pastagens de milheto adubadas com diferentes níveis de nitrogênio (75, 150 e 225 kg/ha), verificou disponibilidades de 2205, 3125 e 3460 kg/ha de MS nas quais a participação do milhã foi de 72, 61 e 47%, respectivamente. Nesse trabalho as vacas suplementadas com 1 kg de ração para cada 3 kg de leite produziram 1360, 2016 e 3712 kg de leite/dia sendo a lotação de 2, 3 e 5 vacas/ha, respectivamente. Restle et al (2002) trabalhando com papuã sob pastejo contínuo, de 11 de janeiro a 19 de abril de 1994, verificaram que o papuã apresentou excelente desempenho, obtendo uma média de forragem de 2783 kg/ha de MS, utilizando na adubação de base 300 kg/ha da fórmula 05-30-15 e, em cobertura, 300 kg/ha de N. Trabalhando na mesma Região com diferentes níveis de N (0, 100 e 200 kg/ha), Martins et al (2000) obtiveram produções de MS de 4657, 5619 e 8753 kg/ha, respectivamente, em pastagem de papuã.
A guanxuma, espécie que ocorre naturalmente na Região Sul do País pertencente a família Malvaceae (Lorenzi 1986), é considerada uma planta indicadora de solos muito compactados (Primavesi 1997). Na pesquisa observou-se que os animais consumiam as pontas da planta especialmente no primeiro ciclo de pastejo quando estava em estádio vegetativo.
Com relação aos componentes estruturais do capim-elefante (Tabela 2), observa-se que a porcentagem de MS de folhas foi maior no início dos pastejos, declinando linearmente (P=0,018) nas demais utilizações, ocorrendo o inverso com a porcentagem de colmos (P=0,031). A porcentagem de material senescente não apresentou variação (P=0,677) entre os pastejos. O valor médio observado é relativamente baixo, considerando-se a época do ano e por estar em fase inicial de utilização (Townsend 1993).
Tabela 2. Porcentual dos componentes estruturais de uma pastagem de capim-elefante (CE) submetida ao manejo agroecológico, com base na matéria seca. Santa Maria – RS |
||||||||||
Partes do CE |
Pastejos |
Média |
CV % |
Prob= |
||||||
16/01 |
02/02 |
26/02 |
08/03 |
16/04 |
17/04 |
|||||
Lâmina Foliar |
48,61 |
51,05 |
37,99 |
31,74 |
28,28 |
28,28 |
37,65 ± 15,37 |
12,04 |
0,018 |
|
Colmo |
39,58 |
44,46 |
45,09 |
61,91 |
60,30 |
60,30 |
51,94 ± 21,20 |
9,78 |
0,031 |
|
Material Morto |
11,80 |
4,47 |
16,90 |
6,33 |
11,40 |
11,40 |
10,38 ± 4,23 |
33,91 |
0,677 |
|
O comportamento das variáveis utilizadas na avaliação da pastagem encontra-se na Figura 1.
Figura 1. Comportamento das variáveis disponibilidade de matéria seca total (CE+ECE), do capim-elefante (CE) e das espécies de crescimento espontâneo (ECE), carga animal, fibra em detergente neutro (FDN), digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e proteína bruta (PB), no decorrer dos pastejos. Santa Maria - RS. |
Com relação a qualidade da pastagem, avaliada a partir de amostras de pastejo simulado, observa-se que o teor de PB apresentou variação significativa (P=0,039) com efeito ascendente no decorrer da utilização (Tabela 1). Esse aumento deveu-se, provavelmente, a maior participação de folhas de origem axilar do capim-elefante a partir do segundo pastejo (Niederauer 1993) e da contribuição das espécies de crescimento espontâneo, especialmente o milhã e o papuã.
Embora exista dificuldade de comparação com pesquisas nas quais essas culturas foram avaliadas de forma singular, teores semelhantes de PB foram observados por Townsend (1993) e Niederauer (1993) com a mesma cultivar sob pastejo simulado. Estes autores observaram valores entre 8,9 e 12,5%. Aroeira et al (1999) verificaram em amostras provenientes de extrusas de animais fistulados um valor médio de 12,4% de PB em pastagem de capim-elefante submetido a diferentes períodos de descanso (30 e 45 dias). Soares (2002) observou teores com o cv. Guaçu de 11,4; 10,5 e 9,1% para 30, 45 e 60 dias de descanso, respectivamente. Ruviaro (1994) verificou valores de 13,4; 14,8 e 11,9% em três ciclos de pastejo efetuados entre dezembro e fevereiro.
Pesquisas conduzidas com papuã e milhã demonstram valores que guardam semelhança com o capim-elefante. Olivo (1982) observou, em pastagens submetidas a adubação de 75, 150 e 225 kg/ha de N, médias de PB para o milhã de 10,0; 12,1 e 15,7%, respectivamente. Restle et al (2002) verificaram valores para o papuã de 10,70; 10,15; 9,30 e 9,15% em cinco períodos de avaliação, efetuados entre dezembro e abril. Nesta pesquisa a adubação nitrogenada foi de 300 kg/ha.
As correlações efetuadas entre as variáveis demonstram associação entre o teor de PB da pastagem e a porcentagem de lâmina foliar do capim-elefante (0,85; P=0,028) justificada pelo declínio qualitativo desta cultura entre o verão e o outono e pela maior participação das espécies de crescimento expontâneo, especialmente do papuã e do milhã. Também verificou-se associação da PB com a porcentagem de FDN (-0,82; P=0,041) devido, provavelmente, ao aumento do material senescente, especialmente do papuã (Restle et al 2002).
A fração FDN apresentou comportamento descendente (P<0,05) no decorrer dos pastejos. Os valores elevados no primeiro pastejo devem-se a brotação inicial do capim-elefante (Niederauer 1993) e a presença elevada de guanxuma que é usada pelos animais neste período. No decorrer da utilização ocorreu um aumento do perfilhamento do capim-elefante e maior participação do milhã e do papuã. Essa interação, provavelmente, deve ter contribuído para diminuir o teor de FDN e aumentar a PB da pastagem. A correlação encontrada entre FDN (%) e a disponibilidade de milhã (-0,83; P=0,037) indica que a presença desta cultura contribuiu, em algum grau, para a melhoria da qualidade da forragem pastejada.
Dados levantados por Silva et al (2002) com 19 genótipos de capim-elefante revelaram teores médios mais elevados e constantes para FDN, verificando médias de 69,20; 67,40 e 68,54%, respectivamente, para a seqüência de três ciclos de pastejo efetuados na estação chuvosa entre outubro e janeiro. Soares (2002) verificou teores entre 64,08 e 69,47% para o capim-elefante cv. Napier também sob pastejo. Os valores obtidos no presente trabalho são semelhantes aos obtidos para a maioria das forrageiras tropicais (Reid et al 1988).
Para a DIVMS não foi observada diferença significativa (P>0,05) entre os pastejos. Comparando-se este resultado com as pesquisas conduzidas com o capim-elefante estabelecido de forma singular e manejado convencionalmente, observa-se nelas um declínio da digestibilidade no decorrer da utilização. Townsend (1993) trabalhando com a mesma cultivar observou teores de 59, 59 e 50% para a seqüência de três ciclos de pastejo. Restle et al (2002) verificaram a mesma tendência para o cv. Taiwan A-146 com valores de 60,10 e 57,95% em janeiro e 53,10 e 49,90% em abril, respectivamente para lâmina foliar e colmo.
Com relação à carga animal suportada pela pastagem, verificou-se um significativo declínio (P=0,0003) com o decorrer dos pastejos (Tabela 1). As análises de correlação demonstraram que houve associação significativa (R²=0,87; P=0,021) da carga com a porcentagem de lâmina foliar do capim-elefante indicando que a quantidade de MS de folhas desta forrageira está associada a maior carga animal. A relação encontrada demonstra que o capim-elefante contribuiu de forma mais efetiva na obtenção de maior carga animal nos pastejos iniciais.
A carga animal média suportada pela pastagem, de 5,2 UA/ha, foi superior à obtida por Restle et al (2002) que, estudando o capim-elefante na mesma Região, com novilhos de corte (sem complementação alimentar), observaram carga média de 3,7 UA/ha. Ruviaro (1994) avaliando a mesma cultivar e utilizando 200 kg/ha de N observou carga animal de 4,2 UA/ha com vacas em lactação da raça Holandesa, produzindo 21,9 kg/dia de leite e recebendo 1kg de concentrado para cada 2,75 kg de leite produzidos. Valor semelhante foi observado por Townsend et al (1994) que, ao trabalhar com novilhas da raça Holandesa sob pastejo com a mesma cultivar e sem complementação com concentrado, obteve carga média de 5,3 kg/ha de PV, usando no período 175 kg/ha de N.
A análise dos resultados mostrou que nas pesquisas usadas
para comparação, as variáveis qualitativas
geralmente tendem a piorar com a seqüência de ciclos de
pastejo enquanto que na presente pesquisa elas se mantiveram
estáveis ou melhoraram. Também, valendo-se da mesma
comparação, observou-se que o desempenho da pastagem foi
relativamente alto tendo em vista que neste estudo foi usado 100
kg/ha de N ao ano sob a forma de adubação orgânica,
enquanto que nas demais pesquisas, em maioria, os valores de
adubação química são superiores a esta
quantidade. Ressalva-se que esse resultados referem-se ao primeiro
ano de avaliação da pastagem, durante o período
estival. A confirmação dessas informações
estará respaldada mediante a continuidade desta
experimentação e de outras pesquisas conduzidas com
manejo similar.
Considerando-se as características de estabelecimento da pastagem, o capim-elefante, ocupando 17% da área, é responsável por 33% da MS disponível.
As espécies mais representativas de crescimento espontâneo são guanxuma, milhã, papuã e pé-de-galinha. As diferentes participações destas espécies, especialmente milhã e papuã, contribuem para proporcionar estabilidade na disponibilidade de forragem entre os pastejos.
O manejo utilizado, tendo como base o resíduo de lâmina foliar do capim-elefante no pós-pastejo e a presença de espécies de crescimento espontâneo, contribui para manter estável a oferta de forragem e a DIVMS, diminuindo o teor de FDN e aumentando o de PB com o decorrer dos pastejos.
A carga animal é maior no início de utilização da pastagem, devido a maior disponibilidade de MS de folhas do capim-elefante.
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Received 10 September 2005; Accepted 30 November 2005; Published 8 February 2006